Princípios
RAIZ em movimento
Liliana
Peixinho*
Num
mundo onde a vida é descaso, aqui, ali, acolá bom seria para o
Brasil adotar ideais como as defendidas em princípios como o da RAIZ Movimento
Cidadanista, através de filosofias e práticas como UBUNTU “eu sou porque nós
somos”; TEKO PORÃ: viver em aprendizado e convivência com a natureza; e
Ecossocialismo, onde o capitalismo é criticado “como insustentável por sua lógica
de reprodução e lucro sem limites, extraindo tudo e todos à sua
frente, incluindo sonhos.” Importante comungar com a ética UBUNTU inserindo na
roda de debates para romper com o comportamento individualista, egoísta,
que não coloca o outro, no eu cotidiano. Na filosofia, UBUNTU é pertencimento à
unidade, interdependência e colaboração. Diálogo, consenso, inclusão, compreensão,
compaixão, cuidado, partilha, solidariedade. “Eu sou porque você é” - “nós
somos porque você é e eu sou”.
Como
filosofia raiz de nossas origens, via Mãe África, O UBUNTU defende a
dignidade como uma prática que alcance a todos. O Movimento RAIZ , que se lançou
na sexta, 22 de Janeiro, em Porto Alegre, também como opção de representação
partidária, incorpora valores, em sua Carta Cidadanista, onde a
emancipação e cidadania estão linkados às grandes pautas da Mãe Terra, e cujas
demandas reprimidas históricas desafiam brasileiros na garantia de
direitos negados. Desta cultura de filosofia de vida extraio um trecho da carta
que diz: “A minha humanidade está presa e está indissoluvelmente ligada à sua.
Eu sou humano porque eu pertenço.. Uma pessoa com UBUNTU é acolhedora,
hospitaleira, generosa, disposta a compartilhar.
A qualidade dá às pessoas a
resiliência. Está aberta e disponível aos outros, assegurada pelos
outros, não se sente intimidada pelos outros Mandela ensinou ao
mundo que não vale vencer a qualquer custo, por isso ele conduziu a superação
do apartheid com reconciliação,
mantendo a paz e a unidade entre os povos da África do Sul. Para a pessoa
com UBUNTU jamais é possível estar bem se nosso entorno não estiver bem. UBUNTU
é a cultura milenar da paz.” É aquela história: enquanto tivermos uma só pessoa
na dor, no sofrimento, na injustiça, porque fazermos festas, em
falsa alegria, contentamento?
Outro
princípio RAIZ que compartilho é o TEKO PORÃ: o Bem Viver. Conceito
transversal, que coloca política, economia e sociedade em visão
horizontal, para resgatar valores dos povos originários da América: Sumak
Kawsai em quéchua; Suma Qamaña em aymara; Tekó Porã, em guarani. Nesse olhar, a carta
diz que “terra que nos acolhe tem que ser protegida, conforme nos ensinam os
povos tradicionais,, pois o mundo é povoado de muitas espécies de seres, também
dotados de consciência, em que cada espécie vê a si mesma e às outras espécies
a partir de sua perspectiva”. Sabedoria reconhecida nos povos do Xingu, e
como vi e convivi de perto por povos como os Tupinambás, Kiriris, Pataxós. E
que se amplia em todas as culturas ameríndias. Cultura que no Brasil, por
exemplo, onde se mata criança indígena enquanto era amamentado no peito da mãe,
numa Rodoviária, estamos mesmo a precisar compreender que a relação social
entre sujeitos, envolva cultura e natureza como simbiose humanitária.
Harmonia com a natureza
A
RAIZ resgata a cultura TEKO PORÃ como afirmação no equilíbrio com o
Planeta e no conhecimento ancestral dos povos originários. Como conhecimento de
profunda conexão e interdependência com a natureza. Relação onde a vida em
pequena escala, sustentável e equilibrada, é necessária para garantir uma vida
digna para todos e a sobrevivência do planeta. Nessa lógica o fundamento são as
relações de produção autônomas e auto suficientes. O Teko Porá também se
expressa, conforme a carta cidadanista da RAIZ “ na articulação política da
vida, através de práticas como assembléias locais, espaços comuns de socialização,
parques, jardins e hortas urbanas, cooperativas de produção e consumo, e das
diversas formas do viver coletivo e harmonioso. Também guarda correspondência
ao histórico desejo de emancipação e unidade dos povos latino americanos,
expressos na utopia da Pátria Grande (Abya-Yala).
Bem viver
O
TEKO PORÃ é a oposição ao “viver melhor” ocidental, que explora o máximo
dos recursos disponíveis até exaurir as fontes básicas da vida. O Modo de viver
Teko Porã combate o consumismo raso, que alimenta matrizes em
exploração predatória dos recursos naturais e só servem à ganância de poucos.
Modelo cuja ânsia de produzir à qualquer custo alimenta a perversa propaganda
do crescimento, do progresso, da enganosa mensagem de “geração de
emprego e renda.
Comunidade Kaimbe Massacará - Povo indígena Bahia - Nordeste do Brasil
O
terceiro ponto da carta que nos chama atenção é a defesa de valores baseados no
ECOSSOCIALISMO como reflexão crítica convergente para ecologia, socialismo e marxismo.
Para a RAIZ Movimento Cidadanista o capitalismo é insustentável. Munidos de
informações científicas compartilhadas em exaustão em grupos de estudos, e
cientes de que o “planeta estará definitivamente exaurido em poucas gerações, e
de que não temos o direito de seguir roubando o futuro dos que estão por vir”, os
enraizados desafiam cenários da economia tradicional e perversa, via consumo
raso, e consideram que para a reversão deste processo, o único
caminho é a Revolução Ecológica. Nesse ambiente observam premissas básicas: a)
estamos em meio a uma crise ambiental global e de tal enormidade que a teia da
vida de todo o planeta está ameaçada e com isto o futuro da civilização; b)
a crítica ao modelo capitalista vigente e ao consumismo predatório e
desenfreado; c) a crítica às revoluções sociais do século XX que tiveram por
matriz ideológica o socialismo real, mas que apenas reproduziram o produtivismo
predatório do modo capitalista de produção.”
Os
valores éticos defendidos pela RAIZ priorizam o COMUM, através da
construção de uma cidadania ativa e solidária. Em crítica radical “o
atual sistema capitalista é incapaz de regular, muito menos superar, as crises
que deflagra; isso porque fazê-lo implicaria pôr limites ao processo de acumulação
do capital, uma opção inaceitável para um sistema baseado na regra “cresça ou
morra!”. É da lógica do sistema preferir “Crescer e Matar!” Essa nova forma de
pensar e agir passa pela formação de cadeias produtivas locais, aproximando
produção e consumo e, sobretudo, aproximando gente e distribuindo renda. Uma
nova e importante forma de produzir e consumir onde decrescemos na concentração,
na ostentação, no supérfluo e crescemos apenas onde é necessário. Tudo isso
gera riqueza, cria empregos, tecnologia, conhecimentos e solidariedade. te
direito comum a todos os seres", defende a RAIZ.